Estudo revela falhas no conhecimento de profissionais de saúde no manejo da asma

Em 2010, a asma foi responsável por 192.601 internações no Brasil, com um gasto superior a R$ 100 milhões.

Um estudo realizado em dois grandes hospitais-escola de pediatria do Recife - Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP) e do Hospital Barão de Lucena, buscou avaliar o conhecimento dos profissionais de saúde que atuavam diretamente no atendimento de crianças em crises de asma.

O manejo da asma aguda exige do profissional de saúde noções básicas para uma atuação eficaz, capaz de reduzir o risco de hospitalização, com mínimos efeitos colaterais, além de maximizar a relação custo-efetividade.

No estudo, foram avaliados médicos e enfermeiros com mais de 2 anos de trabalho, por meio de questionários auto-aplicáveis específicos para cada classe profissional. Tanto os pediatras quanto os enfermeiros apresentaram conhecimento inadequado sobre o uso de inaladores, nebulização, tipo e dosagem de medicamentos, bem como técnicas de descontaminação e desinfecção do material.

De acordo com o pneumologista pediatra dr. Murilo Carlos Amorim de Britto, um dos autores do estudo e membro da GINA Brasil, o conhecimento inadequado do manejo da asma aguda em crianças pode refletir em um tratamento menos efetivo.

“O conhecimento de pediatras e enfermeiros que trabalham em dois dos principais serviços de urgência no nordeste do Brasil sobre o manejo da asma aguda é ainda inadequado. É um indicativo de que situação semelhante aconteça em todo o país”, sugere.

Segundo o pneumologista pediatra, intervenções educativas de âmbitos federal, estadual ou mesmo institucional são necessárias para a implantação de um manejo mais efetivo e de menor custo devido ao elevado número de crianças com asma que frequentam os serviços de urgência.

ID x nebulizadores

Um dos pontos que chama mais atenção dos especialistas é a falta de conhecimentos adequados, tanto de médicos como de enfermeiros, sobre o uso de inaladores dosimetrados (ID). Estas falhas são, em parte, pela falta destes equipamentos nos serviços pesquisados.

Os equipamentos, mais modernos que os nebulizadores, são também mais seguros e oferecem um tratamento de menor custo. Ainda assim, são preteridos por nebulizadores obsoletos, que requerem muito mais cuidados, especialmente com a higienização, explica dr. Murilo.

“Além dos riscos de infecção pela falta de higienização adequada dos nebulizadores, estes equipamentos precisam ser verificados regularmente quando a sua eficácia, pois alguns componentes perdem a qualidade com o tempo e precisam ser reparados”.

Prescrição correta de medicamentos

Outro problema constatado no estudo foi a falta de segurança dos profissionais de saúde para prescrever medicamentos, ocasionando em subdoses e retardo para a prescrição de medicamentos de segunda linha no caso de resposta inadequada ao tratamento convencional.

“Por receio, ou falta de conhecimento, as crianças acabam recebendo doses inferiores às que elas necessitam. A conseqüência é que a crise acaba se prolongando desnecessariamente, ocasionando, às vezes, internações desnecessárias.”

Para o especialista, o que mais chama atenção nestes resultados é o fato do atendimento de emergência a crianças com asma ser parte da rotina destas equipes, e não exceções.

“A asma é hoje, no Brasil, a terceira principal causa de internações pelo SUS.Grande parte destas internações são de crianças, as principais vítimas da doença”, revela. 

Além do dr. Murilo Carlos Amorim de Britto, são autores do estudo a enfermeira Giovanna Menezes de Medeiros Lustosa e a dra. Patrícia Gomes de Matos Bezerra.