Frio favorece aumento da internação de crianças

Especialista fala sobre doenças típicas do outono e do inverno e dá dicas de prevenção


Outono e inverno são as estações em que as crianças mais apresentam problemas respiratórios. Segundo a dra. Marina Buarque de Almeida, presidente do departamento de Pediatria da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), o clima seco e frio, a maior permanência em ambientes fechados e o convívio próximo dos pequenos em creches ou escolas criam as condições ideais para maior circulação dos agentes infecciosos responsáveis pelo aumento das filas nos consultórios médicos e nas emergências dos hospitais.

“Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, crianças cada vez mais jovens precisam frequentar as creches, berçários e escolinhas. Com isso, iniciam sua sociabilização mais precocemente e, por consequência, acabam sendo expostas aos vírus e bactérias circulantes. Nas crianças pequenas - abaixo de dois anos -, principalmente, muitos dos vírus considerados inofensivos para os adultos podem desencadear quadros de maior gravidade. É o caso da bronquiolite; enquanto na criança mais velha, esse vírus geralmente causa um simples resfriado, no bebê pequeno pode causar um quadro pulmonar que não raro evolui gravemente, chegando até mesmo à insuficiência respiratória.”

De olho nos pequenos

A bronquiolite é uma das principais causas de hospitalização em crianças durante essa época do ano. Bebês prematuros e menores de um ano correm risco maior de contrair a doença já que neles a parte terminal dos brônquios é muito pequena, facilitando a obstrução em caso de inflamação e impedindo a passagem do ar.

O principal agente causador é o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e seus sintomas são tosse, respiração com dificuldade, som de chiado no peito e, em bebês pequenos, aumento da frequência respiratória de 40 para cerca de 80 vezes por minuto. No inverno, a gripe causada pelo vírus influenza é a que mais incide sobre a população. Pneumonia, broncopneumonia, crises de asma e crises de sibilância também são comuns nessas estações.

Por conta desse aumento no número de hospitalizações, os pais precisam estar atentos e procurar um médico se a criança apresentar exacerbação respiratória.

“A primeira observação importante é que o pediatra costuma ser muito sensato. Quando ele indica a hospitalização muitas vezes é porque ou o evento pode colocar em risco a vida da criança ou porque o tratamento ideal precisa ser iniciado em regime hospitalar para a mais rápida recuperação da criança”, explica a especialista.

Por isso, “os pais devem manter a calma e tentar ajudar o máximo possível para que a hospitalização seja o menos traumática possível para a criança”. Os critérios para que a internação ocorra costumam ser necessidade de suplementação de oxigênio, insuficiência respiratória (falência respiratória), dificuldade em manter sua hidratação e necessidade de receber hidratação endovenosa, ou no casos de diagnósticos de maior gravidade como pneumonia extensa ou bilateral ou com presença de complicações da pneumonia como derrame pleural.

Como forma de prevenção, a médica indica a aderência à vacinação e, caso a criança seja portadora de alguma doença crônica, à medicação de base também: “Exemplo típico é o do tratamento preventivo da asma. Infelizmente, ainda existem muitos mitos e inverdades na Internet dificultando que os pais concordem em fazer o tratamento preventivo de forma adequada”.

Nas crianças saudáveis, a melhor forma de proteção é manter a vacinação em dia, seguir o aleitamento materno (sempre que possível) até os seis meses de vida, permitir que a criança se recupere antes de retornar à creche, berçário ou escolinha quando doente, manter uma dieta saudável, uma higiene adequada do sono (respeitar horários e necessidades de descanso da criança), evitar o tabagismo passivo e aglomerações e/ou contato com pessoas doentes, afirma a dra. Marina.

“Nas crianças com asma ou sibilância recorrente, é imprescindível o tratamento profilático adequado orientado pelo pneumologista pediátrico, pois são indubitáveis os efeitos protetores que um bom tratamento preventivo apresenta. Além de minimizar muito a recorrência das crises e, consequentemente, das hospitalizações, há um grande incremento na qualidade de vida destas crianças, que poderão ter uma inserção escolar e esportiva normal, reduzindo muito o absenteísmo escolar e fazendo com que seus responsáveis percam menos dias de trabalho para cuidar delas.”